Tudo o que precisa de saber sobre a síndrome dos ovários poliquísticos
A Síndrome dos Ovários Poliquísticos (SOP) é, infelizmente, uma condição mal-entendida, mal interpretada e muitas vezes mal diagnosticada. Com este texto pretendo explicar, de forma sucinta, em que consiste a patologia e de que forma podemos melhorar a sua sintomatologia.
Então, vamos lá ao que interessa.
Antes de mais, o que é?
A SOP é o distúrbio endócrino mais prevalente no mundo, estimando-se que padece entre 2-20% das mulheres em idade fértil1. É uma doença que provoca alterações hormonais e distúrbios que interferem no processo normal da ovulação.
Quais são os sintomas?
Os sintomas podem incluir ciclos menstruais irregulares, níveis de andrógenios elevados e ovários de aparência poliquística (presença de quistos nos ovários)2. Outros sinais comuns entre as mulheres com SOP é a tendência ao ganho de peso e/ou dificuldade na perda do mesmo, acne recorrente e excesso de pelos em determinadas zonas (tais como braços, costas, dedos e ainda algumas zonas faciais)1,3.
Qual é a causa?
A causa da SOP é desconhecida, mas pensa-se ser devido a uma combinação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, salientando que a alimentação, atividade física, tabagismo e stress podem ser fatores determinantes no desenvolvimento da sintomatologia2.
Como é que a SOP pode ser diagnosticada?
De acordo com as linhas orientadoras de Rotterdam, para ser diagnosticada uma SOP, é necessário haver presentes 2 dos 3 seguintes critérios: oligo ou anovulação (não existência de ovulação), hiperandrogenismo clínico ou bioquímico e quistos nos ovários (visível em ecografia)1.
STOP → É importante dizer-vos que mais de 90% das mulheres Portuguesas com idades compreendidas entre os 15 e 49 anos tomam a pílula, correndo o risco de mascarar a síndrome.
Além da sintomatologia associada à SOP, que por si só afeta negativamente a qualidade de vida, existe ainda associada uma probabilidade de desenvolver diversas comorbilidades tais como obesidade, diabetes tipo 2 e cancro1. É de extrema importância salientar que apesar de ser uma patologia crónica, é possível melhorar a sintomatologia e reduzir a aparição das comorbilidades associadas.
O “tratamento” e/ou abordagem para melhorar a sintomatologia recorre, geralmente, à utilização da pílula contracetiva, mascarando assim a doença, uma vez que a pílula, rica em hormonas, permite equilibrar as hormonas em excesso e/ou falta. No entanto, esta abordagem permite apenas mascarar o problema. É fundamental realizar alterações no estilo de vida para tratar a raíz do problema ao invés de o tentar mascarar3.
Quais as alterações que devem ser feitas?
- No caso de haver excesso de peso e excesso de gordura corporal, diminui-la é uma boa forma de reduzir a resistência à insulina e melhorar a sintomatologia. Estudos indicam que uma perda de 5-10% do peso corporal tem efeitos positivos na prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e parâmetros endócrinos na SOP.
- Eliminar o consumo de produtos ultraprocessados (refrigerantes, sumos embalados, lácteos açucarados, bolos de pastelaria, pão branco, carnes processadas, pizzas comerciais, bolachas empacotadas, cereais refinados, refeições prontas a consumir, doces e gelados, produtos dietéticos), pois o seu conteúdo em açúcar e gordura adicionada favorecem a resistência à insulina e a inflamação.
- Apesar de serem necessários mais estudos para comprovar este facto, pensa-se que as dietas pobres em hidratos de carbono (HC) (50-100g de HC por dia) e ricas em proteína podem ser eficazes para indivíduos com esta patologia. No entanto, não é certo que é a única opção para indivíduos com SOP. Assim, recomenda-se o consumo de hidratos de carbono provenientes de verduras, fruta, leguminosas, tubérculos e cereais integrais ao invés de cereais refinados.
- Estudos comprovam os benefícios que uma dieta rica em alimentos de baixo índice glicémico (IG) tem na manutenção da SOP, melhorando a resistência à insulina e diminuindo a prevalência das comorbilidades associadas.
- 5. Realizar atividade física de força (atividades que visam aumentar a massa muscular, tais como agachamentos, flexões, abdominais, etc. com ou sem pesos) irá melhorar a sensibilidade à insulina e com isso, os sintomas associados à SOP.
Alimentos a preferir:
- Alimentos de baixo IG (carne e peixe; vegetais: cenoura crua, brócolos, espinafres, abóbora, couve-flor, tomate, alface; fruta: cerejas, maçã, pera, ameixa; bebidas e iogurtes de origem vegetal sem adição de açúcar; leguminosas: lentilhas, soja, feijões; frutos secos: nozes, amendoins, pistachios, etc; cereais: arroz integral)
- Alimentos ricos em probióticos (chucrute, vinagre de sidra de maçã, chocolate preto com mais de 70% cacau, ervilhas, kimchi, azeitonas verdes) para reforçar o sistema imunitário
- Alimentos ricos em antioxidantes (açaí, mirtilos, framboesas, manga, limão, laranja, abacaxi, bagas goji, cenoura, agrião, espinafres, couve, frutos secos, sementes de girassol, chá verde, chá preto) que podem evitar a formação e degeneração de quistos
- Alimentos e/ou superalimentos que ajudam a equilibrar os níveis hormonais (maca, óleo de onagra, sementes de abóbora, sementes de linhaça, sementes de girassol)
Alimentos a evitar:
- Produtos ultraprocessados
- Leite de vaca (dar prioridade aos lácteos fermentados, preferencialmente de cabra e ovelha4 ou optar por alternativas vegetais, tais como bebidas de amêndoa, arroz, coco etc. e iogurtes de soja e coco)
- A ingestão de alimentos e bebidas ricas em cafeína pode ser um fator de risco para a infertilidade e por isso, a sua ingestão deverá ser limitada a <500mg de cafeína por dia.
Este artigo foi escrito pela Leonor Tavares Costa, da equipa Loveat. Siga o seu trabalho aqui.
Fotografias CV Love.