Vitamina D e COVID-19
Quando nos expomos ao sol, a radiação UV(B) atinge a nossa pele e existe uma molécula precursora do colesterol (dehidrocolesterol), que se transforma em vitamina D3. Esta vai associar-se a uma lipoproteína de forma a conseguir circular no nosso sangue. No fígado é convertida em calcifediol (clacidiol, 25-hidróxi-colecalciferol ou 25-hidróxi-vitamina D) uma pré-hormona, e no rim convertida em calcitriol (ou 1,25-dihidroxicholecalciferol) a forma ativa da vitamina D. Esta forma ativa vai atuar em diversos tecidos como uma hormona, regulando inúmeras funções em várias células do nosso corpo, tendo um papel muito importante na saúde óssea e imunitária.
É essencial uma boa manutenção dos valores séricos de vitamina D, uma vez que a sua atuação tem implicações em vários metabolismos regulatórios: ósseo, imunitário, crescimento, cardiovascular, músculos e insulina. Hoje sabe-se que a vitamina D é crítica para uma boa saúde em geral e em diversos países já é recomendada a sua suplementação, independentemente da idade, durante os meses de Outono e Inverno, pelas próprias entidades de saúde pública.
A vitamina D tem sido um dos nutrientes mais discutidos nos últimos tempos, no que diz respeito à COVID-19.
Uma meta-análise recente, refere que doses diárias e de longo prazo de vitamina D, parecem proteger contra infeções respiratórias agudas. Outros estudos também encontraram associações entre os níveis de vitamina D e a suscetibilidade à COVID-19.
O primeiro ensaio clínico randomizado e controlado de vitamina D e COVID-19 (Outubro 2020), chega às seguintes conclusões:
- A vitamina D tem várias ações nas células e tecidos envolvidos na progressão da COVID-19;
- O tratamento precoce com calcifediol (25-hidróxi-vitamina D) para pacientes hospitalizados com COVID-19, reduziu significativamente as admissões na unidade de terapia intensiva;
- O calcifediol parece ser capaz de reduzir a gravidade da doença.
Ainda não existe evidência científica que suporte diretivas de suplementação específica de vitamina D na prevenção ou tratamento da COVID-19, no entanto, vários estudos recentes verificaram o impacto da vitamina D no desenvolvimento da COVID-19. Estes revelaram que, pacientes com défice de vitamina D, tinham maior probabilidade de testar positivo para o vírus (SARS-COV-2), que causa a doença (COVID-19), comparativamente a pessoas com níveis normais de vitamina D.
Nos meses de sol, em que a radiação UVB é adequada à produção de vitamina D (em Portugal de Março a Outubro), devemos expor-nos ao sol entre as 10-13h, cerca de 15-20 minutos todos os dias (nesta altura, sem o uso de protetor solar, com os braços, pernas, mãos e cara destapadas). Nos meses de Inverno, esta vitamina é mais difícil de ser sintetizada, uma vez que a radiação UVB não tem a mesma frequência que no Verão e passamos muito mais tempo entre portas.
Em situação de défice de vitamina D, deve ser feita a suplementação no mínimo 3 a 6 meses, ou até regular os níveis séricos. Quando os valores estão adequados, mas em meses de Inverno, sem exposição à radiação UV(B), deve ser feita uma dose de suplementação de manutenção, de forma a garantir níveis adequados todo o ano, especialmente durante os meses de maior contágio viral.
Artigo Escrito por Joana Moura
Bibliografia
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- Meltzer, D.O., et al. “Association of Vitamin D Status and Other Clinical Characteristics With COVID-19 Test Results”. JAMA Network. September 2020. 3(9):e2019722. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.19722.