A importância dos próbioticos no nosso bem-estar
Tem sido cada vez mais estudado e hoje sabe-se que, há uma estreita relação entre saúde intestinal e imunidade. Existem diversos fatores que podem provocar um desequilíbrio do nosso microbioma intestinal, sendo cada vez mais comum e afetando inúmeras pessoas. Nesta fase crítica de pandemia mundial, em que todos devemos procurar adquirir uma maior imunidade de forma a estarmos mais protegidos, é essencial refletirmos sobre este tema.
A vida moderna traz níveis elevados de stress, muitas vezes refeições baseadas em alimentos mais processados, um consumo regular de álcool (mesmo que seja aquele copo de vinho ao jantar para relaxar), a prescrição frequente de antibióticos e os resíduos destes em alimentos (principalmente de origem animal), a existência de toxinas ambientais, o baixo consumo de fibra (baixo consumo de alimentos mais frescos e naturais – fibras prebióticas, principalmente de vegetais e frutas). Existem inúmeros fatores alimentares e de estilo de vida que demonstraram ter um impacto negativo no intestino, resultando na redução das bactérias benéficas que o constituem. O stress de uma dieta com alimentos muito processados e um estilo de vida sedentário, podem facilmente desequilibrar as nossas bactérias, afetando diretamente o funcionamento do nosso intestino, causando um desequilíbrio entre bactérias benéficas e patogénicas, que é descrito clinicamente como disbiose.
Muitos pacientes que procuram o apoio de um nutricionista, podem ter este tipo de desequilíbrio que, por sua vez, pode levar a uma série de problemas de saúde. Numa consulta nutricional, direcionada para o tratamento intestinal, é aconselhado o protocolo alimentar adequado, muitas vezes a par de uma suplementação de probióticos, de forma a dar uma ajuda ao restabelecimento de um equilíbrio da microbiota intestinal.
É importante, ao considerar um desequilíbrio nas bactérias, examinar como o microbioma funciona. O equilíbrio do microbioma é importante, assim como a sua diversidade, e é isso que mantém a sua saúde, assim como a do hospedeiro. Qualquer bactéria pode tornar-se prejudicial, se passar a ser muito prevalente. No intestino, tudo se trata de manter um equilíbrio entre as muitas espécies existentes, como que de um campo de batalha se tratasse, em que queremos ter um equilíbrio entre todos os elementos, não havendo domínio de umas bactérias sobre as outras. Assim, se garante que as bactérias patogénicas, não assumem o controle do meio. Uma vez perdido o equilíbrio, esta é designada por disbiose, e pode apresentar-se de formas diferentes, dependendo do tipo de bactérias presentes e da alteração do seu crescimento.
A diversidade é outra marca registada de uma microbiota saudável, e a falta desta, faz com que haja uma maior probabilidade de um crescimento excessivo de bactérias patogénicas.
E como a pesquisa nesta área dos probióticos e intestino, está permanentemente em expansão de conhecimento, este é um tema que exige pesquisa e estudo constante:
- Recentes pesquisas sugerem que, após a toma de antibióticos, podem existir alterações negativas nas comunidades microbianas e uma redução na diversidade de bactérias, mantêm-se presentes por vários meses.
- Uma dieta rica em alimentos muito processados, açúcares adicionados e pobre em fibras, pode diminuir a quantidade e variedade de bactérias benéficas no intestino. Estas bactérias prosperam com as fibras prebióticas da dieta, ajudando a manter um nível saudável no intestino e, consequentemente, um aumento em número e diversidade. Quanto mais bactérias benéficas tivermos no nosso intestino, mais eficiente será a barreira de proteção contra as bactérias patogénicas.
- O stress pode afetar a produção e libertação enzimas digestivas, o que significa que uma maior quantidade de alimentos não digeridos chegam ao intestino, alterando o ambiente microbiológico, potenciando desequilíbrios e disbiose. Durante períodos de stress alimentar/psicológico, populações microbianas intestinais alteradas, afetam a regulação de neurotransmissores (mediados pelo microbioma e a barreira intestinal), levando à disbiose.
EFEITO DA MICROBIOTA, NA NOSSA SAÚDE E IMUNIDADE
Ainda existe um grande desconhecimento do público em geral, sobre o papel dos probióticos e quais as vantagens da sua suplementação. Na maior parte das prescrições de antibióticos, ainda é poucas vezes prescrita a toma de probióticos (tanto a par, como após a terapia antibiótica), apesar do vasto número de pesquisas que apoiam a eficácia da estimulação para a reposição das bactérias intestinais nestas situações.
Comunicar a fisiologia e a função do microbioma de forma a que a informação seja acessível, a um vasto número de pessoas, com uma linguagem que seja entendida por todos, pode sem dúvida uma ajuda para esclarecer a importância das bactérias intestinais e dos alimentos probióticos/suplementos, no apoio à nossa saúde e imunidade.
As bactérias no nosso intestino produzem produtos metabólicos saudáveis e prejudiciais que têm um impacto profundo na nossa saúde. Os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), como butirato, contribuem para muitas funções essenciais no nosso corpo, incluindo a saúde das próprias células do cólon, melhores níveis de energia e uma boa função cerebral. O intestino é responsável pela produção de cerca de 80% dos nossos neurotransmissores, portanto, um intestino com disbiose, pode levar a um decréscimo de neurotransmissores.
Já as bactérias patogénicas (gram negativas), produzem substâncias nocivas chamadas de lipopolissacáridos (LPS), que podem contribuir para um aumento da permeabilidade intestinal, o que pode levar à endotoxemia metabólica e inflamação sistémica. A inflamação é o motor central de muitas das doenças crónicas e muitas das quais começam no intestino.
A microbiota intestinal tem também influência em vários outros órgãos e sistemas do nosso corpo, podendo afetar a digestão, o funcionamento do fígado, do coração, cérebro, pulmões, etc. É comum falar-se do eixo intestino-cérebro, mas há também um intestino eixo intestino-pulmão e eixo do intestino-coração.
Várias pesquisas mostram que o sistema imunitário não se pode desenvolver adequadamente sem um microbioma. No lado exterior da barreira da parede intestinal, concentram-se cerca de 70-80% de nossas células imunitárias, em comunicação constante com a nossa microbiota.
A disbiose, conduz a muitas das respostas inflamatórias e imunológicas inadequadas, que são observadas em diversas condições. Um paciente com disbiose pode apresentar diversos distúrbios intestinais e extraintestinais. Os distúrbios intestinais podem incluir doença inflamatória intestinal (DII), síndrome cólon irritável (SCI), doença célica e cancro do cólon, enquanto que os distúrbios extraintestinais podem aparecer como alergias, asma, síndrome metabólica, doença cardiovascular e obesidade. Depressão e ansiedade também fazem parte do quadro, assim como muitas doenças autoimunes. O supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO), doença do refluxo gastrointestinal, obesidade, baixa imunidade e anemia, podem estar todos ligados a níveis baixos de bactérias benéficas. Uma inflamação intestinal contínua pode levar a diversos problemas de saúde, como anemia, infeção gastrointestinal e desenvolvimento de doenças autoimunes. As nossas bactérias intestinais exercem importantes funções metabólicas e regulam a resposta inflamatória por meio do sistema imunológico. É cada vez mais claro que uma disbiose a longo prazo, tem efeitos muito negativos na saúde. O equilíbrio entre bactérias benéficas e patogénicas está associado a inúmeras condições de saúde e doenças crónicas mais ou menos graves. Todas as bactérias têm um papel a desempenhar no intestino, mas as potencialmente patogénicas precisam de ser controladas. Se um equilíbrio saudável entre bactérias benéficas e patogénicas não for mantido, as células intestinais e o sistema imunológico são expostos a constantes ataques, podendo culminar em vários tipos de doenças. A disbiose tem sido associada a muitas doenças, tais como: alergias, obesidade, doença hepática, síndrome metabólica, doenças autoimunes, doenças cardíacas, Parkinson, autismo, cancro, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, DII, SCI, distúrbios neurodegenerativos e problemas de saúde mental.
O nosso sistema imunitário é como que um escudo protetor, contra os ataques bacterianos e virais, e este é quase exclusivamente dependente de uma microbiota saudável, de um equilíbrio de bactérias benéficas/patogénicas, que facilita quase todos os processos fisiológicos, como digestão, bem-estar psicológico e até gestão do peso. Nas várias pesquisas mais atuais, que têm surgido, a comunidade científica tem confirmado que uma microbiota diversificada, é essencial para uma saúde adequada, e se as nossas bactérias não forem abundantes e diversas, dificilmente teremos a capacidade de manteremos a nossa saúde física, mental e uma imunidade funcional.
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Artigo escrito por Joana Moura, Nutricionista
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