Será que a alimentação pode influenciar a saúde mental das crianças?

será que a alimentação pode influenciar a saúde mental das crianças

Será que a alimentação pode influenciar a saúde mental das crianças?

Todos os nutrientes são necessários para o crescimento cerebral, no entanto, existem alguns nutrientes-chave que contribuem para o desenvolvimento do cérebro e que são: proteína; ferro; colina; folato; iodo; vitaminas A, D, B6 e B12 e os ácidos gordos polinsaturados, nomeadamente, o ómega-3 (Adan et al., 2021).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que cerca de 10 a 20% das crianças e adolescentes em todo o mundo vivenciam algum problema de saúde mental, sendo uma das principais causas de deficiência no caso dos jovens (Guzek, Głąbska, Groele & Gutkowska, 2020).

Ao longo dos anos tem-se investigado a influência de diversos alimentos na saúde mental.Sabe-se que o magnésio, zinco e o ómega-3têm sido estudados a nível da relação com a ansiedade e a depressão(Hosker, Elkins & Potter, 2019). 

Cada vez tem-se dado mais importância à saúde mental e bem-estar das crianças, pelo facto de se ter verificado uma persistência de problemas a nível da saúde mental, da adolescência para a fase adulta, levando a resultados pouco eficientes e de baixa qualidade a nível de objetivos. (Hayhoe R, et al., 2021).

Em 2020 surgiu um estudo que afirmou que nos mais pequenos, uma baixa ingestão de fruta e vegetais estava correlacionada com uma saúde-mental pobre, referindo que era comum as crianças com depressão não seguirem as recomendações diáriasde ingestão (Guzek et al., 2020).

Foi mencionado ainda que, em diversas escolas, havia pouco incentivo de consumo e variedade, que muitas vezes em conjunto com repulsa causava o baixo consumo; como tal, foi sugerido, criar incentivos aos mais pequenos, de diversas formas, para que este consumo aumentasse e assumisse forma variada (Guzek et al., 2020).

Recentemente um estudo concluiu que crianças que consumiam mais fruta e vegetais tinham uma melhor saúde mental. Este estudo foi realizado no Reino Unido e investigou a associação entre o consumo de fruta e vegetais e o bem-estar mental(Hayhoe R, et al., 2021).

Verificou-se que as crianças com melhores resultados nível de bem-estar mental consumiam cinco ou mais porçõesdestes alimentos. Com isto, foi sugerido às escolas controlarem estas ingestões de forma a garantir o bem-estare de forma a garantir o potencial máximode cada criança (Hayhoe R, et al., 2021).

Quanto às primeiras refeições do dia, verificaram que havia uma melhoria do bem-estardas crianças que tomavam um pequeno-almoço completo, relativamente àquelas que apenas comiam um snackou apenas optavam por uma bebida (Hayhoe R, et al., 2021).

As crianças que consumiam bebidas energéticas de manhã, ao pequeno-almoço, tiveramresultados mais baixos a nível de bem-estarem relação a crianças que não as consumiam de todo na refeição do pequeno-almoço. Isto permitiu concluir que o que é ingerido também tem influência, provando que a qualidade não pode ser ignorada,devido ao impacto a nível da saúde mental (Hayhoe R, et al., 2021).

É importante referir que a conjugação da alimentaçãocom outras componentes fundamentais para o bem-estar influenciam, também, a saúde mental do ser vivo. Para além de uma alimentação equilibrada e variada, o exercício físico e o sonosão imprescindíveis para o desenvolvimento da criança. Tem de haver um equilíbrio entre cada componente para se conseguir o melhor resultado possível (Hosker, Elkins & Potter, 2019). 

Uma análise de diversos estudos, chegou a diversas conclusões e observações quanto à alimentação e saúde mental das crianças:

  • Existência de sinais depressivos em crianças com comportamento alimentar pouco saudável, sendo que optavam por fast-foodsnackse bebidas açucaradas (Adan et al., 2021).
  • Um consumo suficiente de fruta e vegetais foi associado a um decréscimo de risco de depressão, quando combinado com atividade física (Adan et al., 2021).
  • Diversos estudos verificaram que umpadrão alimentar benéfico reduzia os problemas de saúde mental, nomeadamente, emoções negativas, sintomas depressivos e desordens psiquiátricas (Adan et al., 2021).

Amicrobiota intestinaltem mostrado um papel importante na resposta aostress, ansiedade, depressão e cognição.Uma alimentação de qualidade ajuda a regular a microbiota intestinale a reduzir o stresse inflamação cerebral, mantendo assim uma função cognitiva adequada ao longo da vida (Adan et al., 2021).

Aalimentação rica em fibra ou o padrão alimentar mediterrânicopromovem a diversidade da microbiota intestinal e estão associados à redução da probabilidade de desenvolver depressão. Também já foi possível verificar que alimentos fermentados podem ter o potencial de modificar a microbiota e, consequentemente, a saúde mental (Adan et al., 2021).

Uma alimentação saudável que tem sido exemplificada como padrão, segundo alguns estudos, é uma alimentação rica em frutas e vegetais (de forma variada), grãos integrais, pescado, frutos secos e legumes. Uma alimentação com um consumo moderado em produtos lácteos com baixo teor de gordura, baixo teor de carne vermelha e processadae um consumo muito limitado em alimentos processados(uma vez que estes são compostos por gorduras saturadas e trans, açúcares e contém adição de sal) (Hosker, Elkins & Potter, 2019). 

Gostou deste tema? Leia este artigo sobre Sabe realmente quais são os efeitos do consumo de alimentos ultraprocessados na nossa saúde?”; “A importância do ómega-3 na função cognitiva

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Artigo escrito por Inês Simões Alves (3671NE), Nutricionista Estagiária Loveat

Referências bibliográficas

Adan, R. A. H., van der Beek, E. M., Buitelaar, J. K., Cryan, J. F., Hebebrand, J., Higgs, S., … Dickson, S. L. (2019). Nutritional psychiatry: Towards improving mental health by what you eat. European Neuropsychopharmacology. doi:10.1016/j.euroneuro.2019.10.011 

Guzek, D., Głąbska, D., Groele, B., & Gutkowska, K. (2020). Role of fruit and vegetables for the mental health of children: a systematic review. Roczniki Panstwowego Zakladu Higieny71(1), 5–13. https://doi.org/10.32394/rpzh.2019.0096

Hayhoe R, et al. (2021) Cross-sectional associations of schoolchildren’s fruit and vegetable consumption, and meal choices, with their mental well-being: a cross-sectional study. BMJ Nutrition, Prevention & Health 2021,4. doi: 10.1136/bmjnph-2020-000205

Hosker, Daniel K.; Elkins, R. Meredith; Potter, Mona P. (2019). Promoting Mental Health and Wellness in Youth Through Physical Activity, Nutrition, and Sleep. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, S1056499318306989–. doi:10.1016/j.chc.2018.11.010 

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