Por que é que contar calorias não resulta a longo prazo

Nos últimos anos, a contagem de calorias tornou-se uma prática habitual na perda peso, sendo vista como uma solução simples para alcançar resultados rápidos. No entanto, esta prática pode não ser a solução mais sustentável a longo prazo, tanto para manter o peso perdido como para desenvolver uma relação equilibrada com a alimentação. Neste artigo, explico-lhe por que motivo contar calorias pode não ser a melhor estratégia e o que pode fazer em alternativa.

1. Este método não pressupõe a variabilidade metabólica

Cada corpo é único e responde de maneira diferente ao consumo de alimentos. O metabolismo de uma pessoa não é estático e pode variar ao longo do tempo devido a fatores como a idade, sexo, genética, nível de atividade física e, sobretudo, variações hormonais. A contagem de calorias não tem em consideração estas variáveis, limitando a especificidade individual e a sua eficácia a longo prazo.

2. Alimentos “zero” e adoçantes artificiais

Outro aspeto importante a ter em conta é o crescente consumo de produtos “zero” ou com baixo teor calórico. Embora muitas vezes comercializados como escolhas mais saudáveis, estes alimentos contêm frequentemente ingredientes artificiais (adoçantes, conservantes e outros aditivos) que, a longo prazo, têm um impacto negativo na saúde.

Estudos indicam que o consumo frequente de adoçantes artificiais pode estar associado a alterações no metabolismo e a desequilíbrios na microbiota intestinal, levando ao aumento do apetite, o que, paradoxalmente, pode contribuir para o ganho de peso. Além disso, estas substâncias podem interferir na regulação da glicemia e aumentar o apetite por doces, potenciando o risco de desenvolver complicações metabólicas como obesidade e diabetes tipo 2.

3. O efeito iô-iô das dietas rígidas e o comportamento alimentar  

A contagem de calorias pode levar à obsessão com a quantidade exata de alimentos ingeridos, promovendo comportamentos alimentares restritivos e rígidos. Esta abordagem tende a gerar ciclos de restrição seguidos de episódios de compensação, conhecidos como “efeito iô-iô”. Este padrão que não só compromete a saúde mental, como também pode afetar negativamente o metabolismo, contribuindo para a perda de massa muscular e aumentando o risco de ganho de peso e obesidade a longo prazo.

Para além disso, estudos na área da psicologia comportamental indicam que um foco excessivo nos valores calóricos pode elevar os níveis de ansiedade e de stresse relacionados com a alimentação, o que pode desencadear comportamentos impulsivos ou episódios de perda de controlo, aumentando o risco de desenvolver perturbações do comportamento alimentar, como a compulsão alimentar.

Face a estes riscos, torna-se essencial adotar uma abordagem mais equilibrada, centrada num estilo de vida saudável e numa alimentação consciente, que favoreça uma relação positiva com a comida e contribua para uma perda de peso mais sustentável e benéfica a longo prazo.

4. A qualidade da alimentação é mais importante que o aporte calórico

O método da contagem de calorias desconsidera a qualidade nutricional dos alimentos e a sensação de saciedade que estes podem proporcionar, diminuindo a necessidade constante de comer. Alimentos ricos em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, são fundamentais para a saúde, mas nem sempre se refletem em alimentos com um baixo valor calórico. Por exemplo, uma “barrinha zero” terá poucas calorias, mas será altamente processada e pobre em nutrientes. Em contrapartida, uma maçã, embora possa ter um teor calórico semelhante ou até superior, é rica em fibras e nutrientes importantes para a saúde.

Estudos demonstram que padrões alimentares baseados em alimentos integrais e ricos em nutrientes, apresentam melhores resultados a longo prazo, tanto na gestão do peso como na saúde metabólica, quando comparados com dietas centradas em produtos “zero”.

Assim, em vez de adotar um controlo rígido das calorias, é mais vantajoso privilegiar a qualidade dos alimentos escolhidos. Opções mais nutritivas e saciantes não apenas aumentam a sensação de saciedade, como também contribuem para o bem-estar geral e diminuem a necessidade de um controlo obsessivo sobre os números. 

5. Dieta mediterrânica: uma alternativa saudável para a perda de peso e para um estilo de vida mais saudável 

Contar calorias pode parecer uma forma lógica de controlar o peso, mas como sabemos esta abordagem raramente resulta a longo prazo, além de ignorar um fator essencial, a qualidade dos alimentos. Como sabe, refeições com poucas calorias, mas ricas em produtos altamente processados dificilmente trazem saciedade ou benefícios para a saúde.

Desta forma, dieta mediterrânica é um excelente exemplo de uma abordagem alimentar que, em vez de se centrar na quantidade, valoriza a qualidade nutricional dos alimentos. Baseada no consumo de frutas, vegetais, azeite, cereais e grãos integrais, leguminosas, peixe e frutos secos, esta dieta aposta em alimentos frescos e minimamente processados.

Mais do que um padrão alimentar, a dieta mediterrânica representa um estilo de vida equilibrado e saudável. Para além dos hábitos alimentares, valoriza também o convívio à mesa, a prática regular de atividade física, o respeito pela sazonalidade dos produtos e a ligação com a natureza. É reconhecida como uma das dietas mais saudáveis do mundo, não só pelos seus efeitos na promoção da longevidade, mas também pela sua eficácia na prevenção de doenças crónicas, como as doenças cardiovasculares.

Ao promover o consumo de alimentos ricos em antioxidantes, vitaminas, minerais, fibra e gorduras saudáveis, esta abordagem contribui para um estado de saúde mais equilibrado e sustentável, sem necessidade de controlo obsessivo das calorias.

Conclusão

Contar calorias pode ser útil a curto prazo, mas não é uma solução sustentável a longo prazo. O foco excessivo na quantidade de calorias pode ignorar a importância da qualidade nutricional dos alimentos, além de contribuir para comportamentos alimentares disfuncionais. A verdadeira chave para uma alimentação saudável e para uma perda de peso sustentável está na escolha de alimentos naturais e equilibrados, como os da dieta mediterrânica. Lembre-se: alimentos “zero calorias” ou “diet” não significam, necessariamente, escolhas saudáveis. Ao contrário, é mais benéfico adotar um estilo de vida que valorize a saúde integral, o prazer de comer e a satisfação proporcionada por alimentos ricos em nutrientes.

Por tudo isto, acreditamos realmente que contar calorias não irá ajudar a manter um peso saudável a longo prazo.

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Artigo escrito por Sabrina Mateus | 4567NE Nutricionista estagiária 

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