Benefício da alimentação plant based nas doenças crónicas
A alimentação Whole Plant Based (WPB), tem-se tornado cada vez mais conhecida e estudada nos últimos 5 anos, principalmente pelos benefícios metabólicos comprovados cientificamente, que têm sido bastante divulgados. Trata-se de uma estratégia alimentar, uma alimentação à base de plantas/vegetais, em que os alimentos são selecionados e consumidos na sua forma mais natural, completa, não refinada e minimamente processada.
Uma alimentação WPB, pode diferenciar-se em muito, de um regime vegetariano/vegano. Nesta, os alimentos são selecionados com a principal finalidade da escolha nutricional, mais natural e orgânica, tendo em conta a forma como os alimentos vão ser cozinhados e respeitando a sazonalidade destes, tirando assim maior partido de todos os benefícios nutricionais. Podemos pensar então, numa alimentação à base de plantas, consciente e informada.
Se numa alimentação vegetariana podem entrar batatas fritas de pacote, ou salsichas vegetarianas embaladas/processadas, numa alimentação WPB, estes tipo de produtos são totalmente excluídos. Sabemos que nem todas as dietas vegetarianas são saudáveis, pois estas podem cair no consumo frequente de alimentos refinados e ultra-processados. E nem todas as dietas que incluam carne, são necessariamente más. Na alimentação o mais importante é sabermos fazer escolhas de forma consciente e informada, saber compor de forma equilibrada as nossas refeições e saber escolher alimentos interessantes, com características anti-inflamatórias e antioxidantes, que vão modelar as nossas hormonas e características de expressão genética.
O tipo de alimentos que escolhemos, vão também modelar a nossa microbiota, ou seja, a nossa população intestinal. É muito importante manter uma boa variedade e quantidade, de forma a equilibrar esta população, criando um eixo saudável intestino-cérebro, com adequada produção de neurotransmissores, que vão ajudar a modelar os pensamentos, emoções, cognição e bem-estar geral. O efeito de uma dieta WPB parece ser importante na regulação do equilíbrio intestinal, existindo estudos que mostram a abundância de certo tipo de bactérias benéficas, como aPrevotella em indivíduos que se alimentam à base de vegetais. A Provetella tem efeitos anti-inflamatórios e está relacionada com a fermentação das fibras vegetais. Já em regimes alimentares com elevado teor em proteína, existe o predomínio de populações de Bacteroides, que são estirpes que estão mais relacionadas com os metabolitos das gorduras e de aminoácidos. Usar ciclos, alternado entre regimes, ou fazermos alimentações menos restritivas, pode ajudar no reequilíbrio da microbiota. (exemplo: ter um ciclo alimentar mais focado no WPB de forma a aumentar a população de Provetellapara reequilibrar as populações de Bacteroidese vice-versa).
Num estudo interessante com 18 anos de avaliação a 48.000 pessoas, foram comparados diferentes tipos alimentares: regimes predominantemente vegetarianos, mas com o consumo de peixe, regimes com inclusão de carne, e regimes vegetarianos variados. Foi avaliado o risco cardiovascular para cada um destes. Como resultado do estudo, os regimes vegetarianos estritos, foram os que apresentaram o maior risco cardiovascular. O que nos leva a pensar que, o que afinal impacta a saúde, não é propriamente o tipo de regime, mas sim, o tipo de escolhas alimentares.
Uma alimentação WPB parece ter efeitos na redução e marcadores inflamatórios (como a Proteína C Reativa; inter-leucinas inflamatórias), ajuda a melhorar a composição corporal, assim como redução de diabetes e doenças cardiovasculares, efeitos benéficos no organismo como um todo. Num estudo de 8 semanas com a aplicação de um regime WPB a par de uma mudança de estilo de vida, verificou-se uma melhoria considerável do equilíbrio metabólico (marcadores de hipertensão arterial e dislipidémia), sendo que os indivíduos que responderam melhor, foram os que não faziam regime vegetariano anteriormente ao estudo. Parece ser interessante a alteração de ciclos e estratégias alimentares, ou seja, não manter a mesma uma estratégia única a longo prazo, introduzindo em situações específicas com marcadores de inflamação crónica e doenças metabólicas uma alimentação WPB, de forma a conseguir criar uma flexibilidade metabólica no nosso organismo e sermos mais eficientes, conseguindo assim, benefícios metabólicos mais relevantes.

Artigo escrito por Joana Moura, Nutricionista
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