Soja, será segura?
Nos últimos tempos, as dietas vegetarianas têm-se tornado cada vez mais conhecidas e aplicadas entre a população. As razões para essa escolha, diferem, incluindo principalmente razões éticas, ecológicas e de saúde.
Os feijões de soja são uma ótima fonte de proteína o que os torna um alimento de interesse nos regimes alimentares vegetarianos. Devido ao crescente interesse por este tipo de alimentação, têm surgido também, no mercado, inúmeros produtos processados a base de soja, que é um alimento extremamente versátil e adaptável ás transformações tecnológicas.
A soja é usada para a produção de vários análogos e substitutos da carne e produtos lácteos que podem ser usados como alternativas, especialmente durante a transição para a dieta vegetariana. Falo, por exemplo, de tofu, seitan, alterativas aos iogurtes, alternativas aos queijos, bebidas vegetais, substitutos de natas, entre outros.
O processamento de alimentos pode alterar drasticamente a composição dos produtos feitos a partir da soja, alterando o teor de nutrientes e anti nutrientes. Além do impacto a nível nutricional, os compostos artificiais deste processamento podem ter impacto na saúde.
Um exemplo do impacto deste processamento dos grãos de soja é poder melhorar a qualidade nutricional deste alimento, pela redução dos anti nutrientes presentes, no entanto, as reações de Maillard podem reduzir a biodisponibilidade dos aminoácidos que a constituem.
Além disso, o tempeh, por exemplo, pode apresentar maiores teores de folatos, ou seja, anti-nutrientes. Este processo de fermentação, também mostrou ter benefícios a nível intestinal, devido aos microrganismos presentes que atuam como probióticos.
Os efeitos benéficos da soja sobre a saúde humana dependem de:
- Teor de proteína
- Teor de Isoflavonas da soja
- Interação com outros componentes da soja
- Flora intestinal de cada individuo
O conteúdo limitado deHidratos de Carbonoe maior teor de proteína faz da soja um bom candidato para o controlo da resposta glicémica em pacientes com diabetes e resistência à insulina e também em doenças metabólicas.
No entanto, diversos estudos suscitam dúvidas quanto á segurança do consumo de soja devido ás as altas concentrações de fitoestrogênios, ou seja, polifenóis com estrutura molecular semelhante aos estrogênios endógenos (do organismo). O alto consumo de alimentos de soja e, consequentemente, isoflavonas nas populações asiáticas tem levantado diversas preocupações mas, até á data, os estudos feitos sobre o impacto das isoflavonas foram realizados apenas em animais. O seu uso nos países ocidentais e o papel na saúde humana ainda é discutível. Em estudos epidemiológicos, as dietas tradicionais asiáticas ricas em fitoestrogênios foram associadas a menores riscos de doença coronária e há algumas evidências sobre possíveis benefícios em relação ao cancro da próstata, cólon, mama e ovário dependentes de hormonas, sintomas da menopausa, osteoporose, obesidade, disfunções cognitivas e redução global do risco de doenças não transmissíveis.
O que nos indicam os estudos relativamente a possíveis efeitos da soja?
- Risco aumentado de problemas na tiroide: No entanto, é improvável que os alimentos com soja possam alterar a função da tiróide em indivíduos sem qualquer problema na tiróide.
- Incidência de cancro na bexiga
- Demência
- Perigo na gravidez
- Cancro da mama
Existem alguns desafios que dificultam a perceção da biodisponibilidade e interação medicamentosa dos fitoestrógenios da soja, tais como:
- Variação interindividual da capacidade de ativação das isoflavonas (principalmente influenciada pela constituição da flora intestinal).
- Diferenças no cultivo
- Fatores ambientais
- Métodos de cultura usados
- Armazenamento
- Processamento deste alimento
São necessários mais dados sobre a segurança, mas os alimentos à base de soja parecem ter um efeito favorável na saúde das mulheres, tendo mostrado ter impacto quando consumida por mulheres com diagnóstico de cancro de mama.
A rede de hormonas sexuais e as perturbações da glândula da tiroide parecem improváveis, especialmente com a baixa ingestão de isoflavonas relatada em vegetarianos. Ao mesmo tempo, para ter os efeitos benéficos das isoflavonas de soja, a ingestão deve ser de pelo menos 60-100 mg por dia que dificilmente é alcançada nos países ocidentais.
Até á data, o uso de alimentos de soja na infância, incluindo fórmulas infantis à base de soja, não foi associado a eventos adversos.
Para evitar riscos acrescidos associados ao consumo de soja, deve fazer-se uma alimentação variada e equilibrada. Os nutrientes-chave da soja (como proteínas, minerais, vitaminas e fitoquímicos) podem ser encontrados também em alimentos como grão, feijão, lentilhas, favas, ervilhas, sementes, frutos secos ou cereais. Além disso, recomenda-se ainda que o consumo de derivados de soja seja reduzindo, dando-se sempre preferência ao feijão edamame (a forma mais natural de soja). Escolha alternativas ao iogurte á base de leite de coco, bebidas e alternativas ao queijo á base de frutos secos, e dê preferência ao tempeh produzidos com outras leguminosas além da soja. Na escolha de pasta miso e molho de soja, tenha sempre atenção á composição nutricional e evite os alimentos com aditivos químicos como intensificadores de sabor, adoçantes e corantes.